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09/06/2016

6 - A PARTIR DO FILME SONHOS ROUBADOS

Há um pulo na cachoeira na ponta de meus dedos
Há um mergulho na lama em frente aos meus pés

Há também a inércia do medo
Há quem sabe o recuo sem fé
E olhos que são morcegos se esgueirando

A batida do funk sou eu
A dança da laje é comigo
Sou filho do beijo da puta
Mas sei fugir disso
Tapando os ouvidos e dizendo um gago “não” compulsivo
Sentando num banco inimigo, maldizendo a mulata
Correndo do que seja entrega e troca e janela e sorriso
Poupando dias gerúndios sem riscos

E posso negar, simplesmente
Construindo uma represa de argamassa
E posso aguardar, de repente
Que se faça a fissura
Que depois me alague

Mas o passarinho conta
Há mesmo um buraco que se abre a todo minuto
Como um dia sob o menino, maluco por um culpado

Há um bater de asas sem estrutura
Sem pilar ou arquitetura que sustente o sonho seguro

Aqui é o fundo do poço, então salte
Aqui o lago é profundo
Aqui é o salto na pedra, então quebre
Aqui é a gastura de ratos e surpresas